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A História da Arquitetura em Santos



A História da Arquitetura em Santos

Século XIX - A Arquitetura Neoclássica
O advento da Revolução Industrial na Europa, da máquina, da produção em massa, gera um enorme êxodo do campo em direção às cidades, fazendo surgir novas formas de convivência social e graves problemas pela falta de urbanização. Na mesma época, escavações arqueológicas na Itália descobrem as ruínas de Pompéia, revelando a vida prática e a funcionalidade da urbe romana, que passa a ser um referencial urbano para aquela sociedade em transformação. O modelo descoberto atendia de imediato às novas demandas sociais que surgiam.

As cidades se reestruturavam através da construção de edifícios que até então não existiam: escolas, hospitais, cemitérios, portos, quartéis, pontes, praças, etc. Deixam de ser desenhadas pela fantasia do clero ou dos monarcas e passam a ser projetadas para atender questões sociais. Nesta época surge também a estética, a filosofia da arte, a ciência do que é belo do ponto de vista crítico e racional. A sobriedade no ornamento, o equilíbrio e a proporção dos volumes da arte clássica era, então, a que mais se aproximava dos conceitos científicos de beleza.

No início do século XIX, D. João VI traz para o Brasil a Missão Francesa, composta por 32 artistas daquele país, entre os quais arquitetos que projetaram importantes edifícios públicos para Santos, como a Alfândega já demolida. Se, no século XVIII, era o clero a ser monumentalizado através da construção de igrejas barrocas, no século XIX são os edifícios públicos (res-pública) que agora representam a urbanização e a modernização das cidades. A Casa de Câmara e Cadeia (projetada em 1836) é outro edifício que alia a imponência do edifício público, sede de governo, com sutis ornamentos da arquitetura neoclássica presentes na fachada. Mas em Santos, nem sempre o público prevalecia sobre o privado, como na Europa. Edifícios privados também destacavam-se na cidade, como a Casa de Frontaria Azulejada (1869), que une a arquitetura neoclássica com a técnica de revestimento portuguesa, e os Casarões do Valongo (1867).
A Casa de Câmara e Cadeia (esq.) e a Casa de Frontaria Azulejada (direita):
a presença da arquitetura neoclássica tentava adequar a paisagem de Santos
às transformações urbanas que ocorriam no Brasil em razão da abertura
dos portos ao comércio internacional. O objetivo era aproximar seus
aspectos de organização urbana à imagem de uma cidade européia.
O que ver hoje
Casa da Câmara e Cadeia: com construção iniciada em 1836 e concluída somente em 1866.
Praça dos Andradas, s/n - Centro
Casa de Frontaria Azulejada: um dos mais belos edifícios de Santos, construído em 1865 pelo Comendador Ferreira Neto.
Rua do Comércio, 98 - Centro
Casarões do Valongo: construídos em 1867 e 1872, inicialmente serviram de residência e depois abrigaram, respectivamente, a terceira sede da Câmara e a Administração Municipal até o ano de 1939.
Largo Marquês de Monte Alegre s/n - Centro
Casa da Typografia Brasil: um dos mais antigos edifícios remanescentes da antiga Rua Direita.
Rua XV de Novembro, 117 - Centro
O que perdemos
Antiga Alfândega: o belíssimo edifício, de 1880, foi projetado pela Academia Imperial de Belas Artes a mando de D. Pedro II. Em 1939 foi demolido para dar lugar ao prédio atual.
Theatro Guarany: inaugurado em 1882 e reformado em 1911, foi sendo descaracterizado a partir dos anos 40 e destruído por um incêndio em 1981. Resta a fachada em ruínas.
Praça dos Andradas, 100 - Centro
Santa Casa de Misericórdia: do edifício original, construído em 1836 no sopé do Monte Serrat, resta somente a escadaria da entrada principal, junto à saída do Túnel.

Esse belo edifício neoclássico, inaugurado em 1880 foi a sede da Alfândega
por 54 anos. Em 1934 seria demolido para a construção de um edifício maior
que pudesse atender o crescente movimento portuário (foto Setur).
A Arquitetura Vitoriana e o imperialismo inglês
Detentora de tecnologia e capital provenientes da exploração de suas colônias e de países periféricos, como o Brasil, a Inglaterra tornou-se, na segunda metade do séc. XIX e sob o reinado da Rainha Vitória, a grande potência econômica e militar mundial. Principal palco da Revolução Industrial, novas máquinas e processos produtivos favoreciam a acumulação de capital e o investimento desse capital em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde os ingleses facilmente ganhavam concessões para a construção e exploração de grandes obras de infra-estrutura, como portos e ferrovias.

A presença inglesa em Santos crescia no mesmo ritmo que a dependência econômica do Brasil em relação à Inglaterra. Tanto assim que a arquitetura vitoriana tem na cidade uma importante presença: a Estação do Valongo. Construída a partir de 1860, foi totalmente importada da Inglaterra pela São Paulo Railway Co. Sua construção introduziu na cidade novas tecnologias, como paredes estruturais de tijolos assentados em amarração e até mesmo elementos arquitetônicos dispensáveis ao nosso clima, como os balaústres de ferro na cobertura, próprios para o escoamento de neve. A presença dos ingleses em Santos era tão forte, que fez surgir até mesmo um bairro, o Bairro dos Ingleses (no José Menino). Ali se instalou o Hotel Internacional (1894), de arquitetura vitoriana, estilo que influenciou outras residências na cidade, como as destinadas aos inspetores gerais da Cia Docas (1902), hoje ocupadas pelo Museu do Porto.
Ao lado, os casarões do Museu do Porto, construídos pela Cia Docas de Santos para residência de seus inspetores..
Abaixo, a Estação da São Paulo Railway Co., nosso mais típico edifício vitoriano, na véspera da reabertura após processo de restauração efetuado em 2003.
O que ver hoje
Estação do Valongo: de 1867, é a cópia reduzida da Victoria Station de Londres. Foi totalmente restaurada em 2003.
Lgo. Marquês de Monte Alegre, s/n
Casarão do Museu do Porto: datado de 1902.
Av. Cons. Rodrigues Alves esq. com Rua Cons. João Alfredo, Macuco
Antiga Garagem dos Bondes
Av. Rangel Pestana - Vila Mathias
O que perdemos
Hotel Internacional: de 1894, ficava na orla da praia do José Menino. Sua localização era previlegiada, de frente para o mar e a ilha de Urubuqueçaba, onde hoje localiza-se um trecho de edifícios na faixa da areia. Foi demolido para resolver problemas de trânsito.
Western Telegraphy: um dos mais imponentes edifícios da cidade, local de encontro de comerciantes, exportadores e marinheiros que queriam comunicar-se com o estrangeiro. Localizava-se em frente ao Cais do Valongo, junto a Bolsa Oficial de Café e foi demolido nos anos 70 para dar lugar à passagem de caminhões

O Internacional em postal que circulou em 1908. À beira-mar, foi o primeiro
hotel de luxo nas praias e projetou Santos no exterior (col. João Gerodetti)
O ecletismo e o desenvolvimento urbano de Santos
Na Europa, o declínio do classicismo dá espaço ao academicismo das Belas Artes, que estuda e cria um repertório de estilos do passado, passíveis de combinação e adaptáveis a qualquer tipologia construtiva. Por um momento na história os arquitetos ficam restritos a decorar fachadas de edifícios pré-concebidos por engenheiros, até um ponto em que a arquitetura renuncia às Belas Artes em favor da técnica, tornando-se esta a própria razão da Arte. Surge o ecletismo, que mistura o renascentista e o medieval, o gótico e o neoclássico, de forma aleatória, desproporcional e irracional.

Para a burguesia brasileira, Paris era uma cidade modelo, com seus boulevards criados pelo Plano Haussmann de reurbanização da cidade. No Rio de Janeiro, o prefeito Pereira Passos construía a Avenida Central, cujos edifícios obrigatóriamente seguiam o estilo eclético, numa tentativa de impor Paris aos trópicos. Logo, o ecletismo tornou-se sinônimo de luxo, alastrando-se pelo país e chegando a Santos justamente em seu período de apogeu econômico. São incontáveis os edifícios na cidade cujas fachadas são decoradas no estilo eclético, mesmo já dispondo a Arquitetura de tecnologias avançadas como o concreto armado. O edifício da antiga Bolsa Oficial de Café, inaugurado em 1922, é o que melhor representa esse período: é construído em concreto armado, mas totalmente decorado em estilo eclético. Sua fachada possui elementos clássicos, renascentistas e barrocos, enquanto que o salão de pregões segue o estilo bizantino-renascentista.

Outros exemplos são a Catedral de Santos (1909), com projeto em estilo neogótico de Maximiliano Hehl; a Associação Comercial de Santos (1924), de fachada clássica manuelina; o edifício do Corpo de Bombeiros (1909), em estilo gótico-renascentista, e o Centro Português de Santos (1901), em estilo neomanuelino, edifícios que curiosamente mesclam arquiteturas do passado.
Acima, a torre da Bolsa Oficial de Café (esq.), e a Construtora Fênix, na ex-sede da Banca Italiana di Desconto (direita). Ao lado, porta de edifício na Rua do Comércio. Abaixo, o Centro Português. O ecletismo teve forte presença em Santos por ter surgido na época de seu apogeu econômico. O avanço de novas tecnologias e do papel da Engenharia condenou a Arquitetura à mera composição de fachadas. Era comum a mistura de elementos de diversas épocas e países, como o clássico, o renascentista italiano, o gótico, o manuelino de Portugal, etc.
O que ver hoje
Bolsa Oficial de Café: com projeto datado de 1920, foi inaugurada em 1922, nas comemorações do centenário da Independência. Em 1981 o prédio foi tombado pelo Condephaat e, em 2006, pelo Iphan. Restaurado em 1999, hoje abriga o Museu dos Cafés do Brasil.
Rua XV de Novembro, 95 - Centro
Theatro Coliseu: inaugurado em 1924, foi tombado e fechado para restauração durante 12 anos. Foi reaberto em janeiro de 2006.
Rua Amador Bueno, 237 (Pça José Bonifácio) - Centro
Bolsa de Valores de Santos: datado de 1925, foi sede do Banco Brasileiro Alemão e atualmente abriga o World Trade Center-Santos.
Rua XV de Novembro, 111 - Centro
Câmara Municipal de Santos: o edifício vizinho à Bolsa de Café, datado de 1930, abriga atualmente a Câmara Municipal e tem em sua fachada uma placa comemorativa que marca o local da casa em que nasceu e cresceu José Bonifácio.
Rua XV de Novembro, 103 - Centro
Associação Comercial de Santos: de 1930, o curioso edifício possui elementos decorativos em escala incompátivel com suas proporções.
Rua XV de Novembro, 137 - Centro
Antiga Casa Alemã: construída por volta de 1915, foi um dos principais pontos comerciais da cidade. Recentemente restaurada e reciclada, hoje é a atual sede da P. O. Nedlloyd Brasil Navegação.
Praça Rui Barbosa, 26 - Centro
Correios e Telegraphos: construído em 1924, é a terceira sede dos correios e foi uma doação da Cia Docas de Santos.
Praça Mauá, s/n - Centro
Palácio José Bonifácio: um dos mais imponentes edifícios da cidade, inaugurado em 1939, por ocasião do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade.
Praça Mauá, s/n - Centro
Catedral de Santos: iniciada em 1909, com projeto em estilo neogótico de Maximiliano Hehl (que também projetou a Catedral da Sé, em São Paulo), teve sua primeira missa em 1924, mas só em 1951 foi inteiramente finalizada.
Praça José Bonifácio, s/n - Centro
Atlântico Hotel: datado de 1928 e necessitado de restauro, o hotel é um dos mais marcantes edifícios do Gonzaga.
Av. Presidente Wilson, 1 - orla da praia do Gonzaga
Remanescente do Parque Balneário Hotel: datado de 1914, era ocupado pelos setores de serviço do hotel e também hospedava a criadagem dos hóspedes.
Praça Rotary, 1 (Esq. Fernão Dias e Carlos Afonseca) - Gonzaga
Pinacoteca Benedito Calixto: datado de 1900, foi completamente reformado em 1921, quando ganhou rico acabamento em elementos art-nouveau, principalmente os adornos e afrescos inspirados na natureza. Foi restaurado em 1992 para abrigar a Pinacoteca.
Av. Bartolomeu de Gusmão, 15 - orla da praia do Boqueirão
Colégio Cesário Bastos: datado de 1915, mostra a influência da arquitetura art-nouveau na cidade.
Praça Narciso de Andrade, s/n (Av. Rangel Pestana) - Vila Mathias
Centro Português de Santos: projeto datado de 1898, de autoria dos engenheiros portugueses Ernesto Maia e João Esteves Ribeiro da Silva, foi inteiramente concluído em 1901.
Rua Amador Bueno, 188 - Centro
O Grande Hotel de La Rotisserie Sportsman dava frente para a Praça Mauá e para a Rua XV de Novembro e sua lateral ocupava toda a quadra da atual Rua Riachuelo (col. João Gerodetti)
O que perdemos
Rotisserie Sportsman: construído por volta de 1900, esse grande hotel ocupava a quadra inteira da Rua Riachuelo, da Rua XV de Novembro até a Praça Mauá. Foi demolido para dar lugar à agência do Banespa na Praça Mauá.
Santos Hotel: datado de 1924, ficava no Largo do Carmo, atual Praça Visconde do Rio Branco, onde hoje se situa o edifício do Forum Federal, antigo Instituto Brasileiro de Café.
Correios e Telegraphos (sede antiga): o que restou da imponente sede dos Correios e Telegraphos ainda ocupa hoje toda a frente da Praça Rui Barbosa, na Rua Frei Gaspar. Sofreu descaracterizações, como a tentativa frustada de atualizá-lo nos anos 40 e, mais tarde, a demolição da fachada sul para o alargamento da Rua João Pessoa.
Parque Balneário Hotel: datado de 1914, ocupava a quadra inteira da Av. Ana Costa com a praia, no Gonzaga. Foi o mais suntuoso hotel da cidade, símbolo da época áurea do café, e seus jardins foram incluídos no plano urbanístico de Saturnino de Brito. Foi demolido nos anos 70 para a construção de um condomínio, um shopping e um hotel, todos com o nome de Parque Balneário.
O Hotel Parque Balneário foi construído com materiais importados e, durante muitos anos, foi o mais luxuoso da cidade. O que restou dele ainda pode ser visto na Praça Rotary, no Gonzaga: um prédio anexo que abrigava o setor de serviços e a criadagem dos hóspedes.












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